quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ralações em Rede





Às vezes manter relações, quer sejam de amizade, namoro, académicas ou profissionais, torna-se uma grande complicação. Aliás, como dizia o Pe. Vasco Pinto de Magalhães, passam de relações a ralações!

A fronteira entre o que realmente nos faz crescer e aquilo que nos chateia é tão ténue que às vezes nem sabemos distinguir as coisas.

Uma relação consiste num compromisso de fidelidade, lealdade, amizade e mais outras "ades"... ora, se uma dessas "ades" falhar, o mais certo é que o falhanço seja completo.

Outra coisa que me aborrece na história das relações baseadas em "ades" é a falta de zelo pelo outro, a falta daqueles elementos básicos de convivência, como um "está tudo bem?", ou "há algo em que eu possa ajudar?".

(Enfim, isto de escrever sobre coisas tão quotidianas pode ser enfadonho mas o desafio é tentar explicar sem ser demasiado óbvio. Vamos ver se o consigo!)

Então, o que estava eu a referir era o meu desagrado em relação à base das actuais re/alações.

Se há décadas atrás um simples diálogo de café era considerado o início de uma grande amizade, vejamos agora o caso das redes sociais, dos comentários, dos "gostos" em tudo e mais alguma coisa, da exacerbada comunicação com desconhecidos ou pouco conhecidos... em suma, uma autêntica rebaldaria!

Sei que sou demasiado antiquada nestas minhas opiniões mas a verdade é que, embora me dê às modernices, sei os limites a que posso chegar, os "gostos" que não devo por, aquilo que não devo dizer publicamente em comentários descontextualizados, a forma como devo partilhar as minhas críticas, etc.

Infelizmente, e apesar de reavivar a minha opinião entre aqueles que me são mais próximos, continuo a ver o que me choca, o que na minha perspectiva, não está certo.

Contra as minhas expectativas, as redes sociais da actualidade, servem pouco para manter a comunicação com aqueles que habitualmente não encontramos na rua, e demasiado para alimentar frustrações, desconfianças, e todo um leque de ralações.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Concursos de Desenho, Design e afins.




Participar num concurso é sempre arriscado. Pode perder-se muito tempo e nem o reconhecimento se ter em troca.

Como jovem licenciada no ramo do Design, tenho participado, por carolice, numa série de concursos de fotografia, desenho, design, etc.

Todos eles exigem a leitura e o conhecimento de regulamentos extensos, cheios de alíneas que pretendem balizar, sem comprometer a criatividade dos concorrentes. Contudo, tenho assistido a várias falhas na "arbitragem" destas "competições".

Já vai sendo hábito promover votações com paineis de júris reputados que, após seleccionarem uma short list de propostas, vão eliminando por fases os trabalhos até chegarem ao vencedor/es.

Foi com o espírito de amadorismo que participei em mais um, desta vez organizado pela Fundação da Juventude.

O mote era claro! Pedia que se desenhásse um martelinho de São João, original e criativo, para celebrar mais uma festividade tipicamente portuense.

Elaborei três propostas com base no desenho que vinha anexado ao regulamento e lá fui entregar os meus "projetos" de martelos!

Pelos vistos, em Portugal, e especificamente no Porto, já é hábito desprezar o regulamento a favor de "valores maiores".

Começou com o concurso do ICBAS, que pretendia apurar o vencedor com a proposta de um novo logotipo para a instituição. Não houve vencedor!

Agora, para grande espanto de todos os concorrentes ao tal concurso de que falei há pouco - o dos martelos -  venceram três propostas fora do regulamento!

A polémica já se alastrou pela rede social Facebook e merece alguma preocupação.

Os montantes oferecidos são superiores ao que é de esperar em concursos desta tipologia. Esperavam-se obras que, para além de respeitarem o regulamento, tivessem excepcionais qualidades artísticas e criativas. Mas, tal não aconteceu! Podemos comprová-lo dando uma olhada no próprio website da Fundação da Juventude.

Enfim, entre cunhas e falcatruas, vamos reconhecendo cada vez menos aquele que era o país dos brandos costumes.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Depois dos Vinte

Depois dos Vinte percebemos que já passámos duas décadas a estudar e não nos sentimos experientes a fazer o que quer que seja.
Somos levados a pensar que os nossos sonhos são impossíveis e que todas as crises nos impedem de ser realmente independentes.
Damos conta de que a juventude passa depressa demais e já não temos tempo para a gozar em pleno.
Depois de nos licenciarmos percebemos que passámos por experiências inesquecíveis, mas que não mais se repetirão.
Quando, depois dos vinte, se muda de terra ou de universidade, entendemos o quão duro é estranhar um local, as pessoas desconhecidas e, mais do que tudo, a falta dos amigos... amigos que passamos a ver "quando o rei faz anos" ou, por mais duro que nos pareça, amigos que nunca mais veremos.
Quando nos sentimos estranhos na própria casa, quando vemos o mundo passar por cima dos nossos ideais, quando não estamos confortáveis em lado algum, percebemos que é demasiado tarde para emendar, que já não há mais espaço para errar e que, a partir desse momento, não somos nós atrás da vida; é a vida que nos leva.

E ser feliz?
Como é ser feliz na ditadura da vida? Seremos felizes no fim?

terça-feira, 1 de maio de 2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pequenos Bombons


Não sei se estou a ficar demasiado nostálgica mas a verdade é que tenho sentido a necessidade de parar, escrever e registar alguns momentos marcantes.
Este foi um fim de semana cheio, cheio de actividades, cheio de alegria, cheio de coisas boas e agradáveis notícias.
É bom quando sentimos a felicidade dos outros como se fosse nossa, é óptimo vermos o melhor nas pequenas coisas e sabermos que, no meio de tanto mal, a nossa vida continua a ser um privilégio.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Bon Camiño



Santiago foi um admirável homem que percorreu a pé e a cavalo alguns dos mais bonitos locais da Europa.

A sua importância é tal, na Igreja Católica, que o caminho por ele percorrido é actualmente a terceira maior peregrinação, depois de Jerusalém e Roma.

Milhares de pessoas partem diariamente nas aventuras de Santiago, com diferentes motivações.

Não existem alturas certas para se iniciar a peregrinação. A pé, a cavalo ou sobre rodas, os Caminhos de Santiago permanecem à disposição dos peregrinos todo o ano, marcados pela transformação natural inerente às mudanças de estação e condições climatéricas.

Há quem prefira caminhar sozinho, há quem vá em grupo. Há os que o fazem em silêncio e os que não dispensam o convívio ou uma boa música a acompanhar. No fundo, o caminho permite-nos experimentar todas estas "modalidades" e leva-nos a uma explosão de emoções.

Comigo foi assim... nos cinco dias de Caminho, em grupo, com uma mochila cheia de coisas (que agora entendo como supérfluas) consegui experimentar um conjunto de sentimentos muito distintos.

As grandes caminhadas são metáforas e significam a vida, os pontos altos e baixos, as dificuldades, as partidas e as chegadas, as companhias, os momentos de solidão,...

Esta, que para mim foi enorme, foi também a forma mais imediata de perceber que o esforço faz parte do trajecto, que cada momento conta por si só e devemos vivê-lo sem vergonha das nossas fragilidades.

Viver é aprender a aceitar o quão frágil somos e reconhecer a nossa força quando nos deparamos com o que de menos bom existe.

Caminhar é também conhecer pessoas, observar outras realidades e estar suficientemente aberto para aceitar as diferenças de quem connosco "vai andando".

O Caminho de Santiago em época de Páscoa traz também novas condicionantes e com isso a necessidade de procurar a verdadeira motivação do caminho sem nos deixarmos levar pela pressa de chegar.

No rescaldo dos quilómetros percorridos vem-me também à memória o contacto com as pessoas das diferentes localidades por onde passámos, a prontidão das informações, a motivação e a célebre frase: "Bon Camiño".

quinta-feira, 15 de março de 2012

domingo, 26 de fevereiro de 2012





É uma deformação da solidão extrema o acabar por nos fazer crer na imaginação que o nosso monólogo íntimo possa ser percebido ao longe sem palavras. " Saint-Jonh Perse

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um Dia-D

Há aqueles dias em que achamos que tudo podia ser melhor e, hoje foi um deles.
Foi naturalmente um dia Difícil e Desesperante, mas não deixou de ser um dia com Deus.
Depois de tantas contrariedades, cheguei à estação de Campanhã e consegui apanhar o comboio que queria.
Contudo, à medida que o comboio avançava, eu começava a sentir que algo de estranho se ia passar.
Duas estações à frente, parámos por um motivo muito Desagradável: a morte de alguém.
Alguém decidiu entregar a própria vida ao fim da tarde entre os trilhos do comboio.
Eu, que me encontrava sozinha na confusão que se gerou dentro do comboio devido aos atrasos e às suspeitas do sucedido, estava a observar todas as manifestações de Desagrado.
Entre elas, estava alguém Diferente. Era alto e tinha um ar muito sereno; estava tranquilo e trazia um livro cujo título explicava todo o seu comportamento: "O Dom". Logo me fez perceber que seria alguém com uma espiritualidade firme.
Sentado ao pé de uma senhora e  de um casal jovem, começaram os quatro a falar da morte e das suas vivências espirituais.
A senhora confessou ser interessada por psicanálise e ter, até, desenvolvido um trabalho sobre o assunto. O casal de jovens dizia-se ateu mas acreditava nos valores humanos das religiões.
O dono do livro mantinha uma postura de ouvinte e concordava com as frases mais assertivas. Não restavam dúvidas. Era padre.
Consegui perceber, não só pela atitude como pela presença de um anel com o símbolo de uma ordem religiosa.
Era o encontro fantástico entre quatro estranhos que, por um acaso infeliz da vida, se juntaram para falar de Deus.
As opiniões eram distintas, mas todas iam ao encontro da mesma razão.
Mais uma vez, apesar de terem sido quarenta minutos de enorme tensão, fiquei feliz por poder observar um encontro tão improvável e testemunhar a presença inegável de Deus.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Plásticas à Alma

Hoje são 16 de Janeiro. Estamos em 2012, "o temível ano de mudança" de hábitos e mentalidades, é claro!

Um dos hábitos que mudará certamente é o do consumo. Com o avançar da crise económica, será mais difícil continuar a alimentar o consumismo. E esta é uma mudança que não me preocupa.

Dizem que mudará também a forma como valorizamos as pequenas coisas e em relação a isso tenho algumas dúvidas. Não haverá agora mais "motivos" para o aumento da corrupção e de outros actos em benefício próprio?

Talvez sejamos ainda pouco exigentes na forma como educamos a sociedade.

É interessante perceber os binómios sociais que mais se revelaram no século XXI...

Em primeiro lugar está a ditadura da beleza e de figuras esbeltas, cada vez mais magras que tem a seu par a má alimentação e sedentarismo, principais causas da obesidade.

Em segundo lugar está algo parcialmente escondido: o diz que disse, o pré-conceito e todos os mitos urbanos.
Será normal criticarmos os dogmas e preconceitos de diferentes culturas, ideologias e religiões, sem fundamento e criarmos nós uma espécie de "força de ataque"?
Qual é a lógica da crítica sem a necessária auto-crítica?

Para terceiro e último lugar elegi "o aproveitamento da inércia e dos subsídios" versus "o trabalho voluntário e a responsabilidade social".
A meu ver, a inércia é já um problema social. Enquanto uma pequena parte da população se dedica a inúmeras causas para além da sua vida pessoal e profissional, há um número substancial de pessoas a desperdiçar segundos, minutos, vida...

Podem parecer um contra-senso mas as ideias antagónicas que regem a sociedade estão cada vez mais evidentes nos desequilíbrios que todos nós vamos sofrendo.

Talvez nos tenhamos esquecido que nada pode esconder uma boa alma e a necessidade das suas acções, nem mesmo uma cirurgia plástica.

As aparências podem sempre manipular-se à luz dos tempos; o ser jamais parecerá sincero e justo com tão belo disfarce.