quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um Dia-D

Há aqueles dias em que achamos que tudo podia ser melhor e, hoje foi um deles.
Foi naturalmente um dia Difícil e Desesperante, mas não deixou de ser um dia com Deus.
Depois de tantas contrariedades, cheguei à estação de Campanhã e consegui apanhar o comboio que queria.
Contudo, à medida que o comboio avançava, eu começava a sentir que algo de estranho se ia passar.
Duas estações à frente, parámos por um motivo muito Desagradável: a morte de alguém.
Alguém decidiu entregar a própria vida ao fim da tarde entre os trilhos do comboio.
Eu, que me encontrava sozinha na confusão que se gerou dentro do comboio devido aos atrasos e às suspeitas do sucedido, estava a observar todas as manifestações de Desagrado.
Entre elas, estava alguém Diferente. Era alto e tinha um ar muito sereno; estava tranquilo e trazia um livro cujo título explicava todo o seu comportamento: "O Dom". Logo me fez perceber que seria alguém com uma espiritualidade firme.
Sentado ao pé de uma senhora e  de um casal jovem, começaram os quatro a falar da morte e das suas vivências espirituais.
A senhora confessou ser interessada por psicanálise e ter, até, desenvolvido um trabalho sobre o assunto. O casal de jovens dizia-se ateu mas acreditava nos valores humanos das religiões.
O dono do livro mantinha uma postura de ouvinte e concordava com as frases mais assertivas. Não restavam dúvidas. Era padre.
Consegui perceber, não só pela atitude como pela presença de um anel com o símbolo de uma ordem religiosa.
Era o encontro fantástico entre quatro estranhos que, por um acaso infeliz da vida, se juntaram para falar de Deus.
As opiniões eram distintas, mas todas iam ao encontro da mesma razão.
Mais uma vez, apesar de terem sido quarenta minutos de enorme tensão, fiquei feliz por poder observar um encontro tão improvável e testemunhar a presença inegável de Deus.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Plásticas à Alma

Hoje são 16 de Janeiro. Estamos em 2012, "o temível ano de mudança" de hábitos e mentalidades, é claro!

Um dos hábitos que mudará certamente é o do consumo. Com o avançar da crise económica, será mais difícil continuar a alimentar o consumismo. E esta é uma mudança que não me preocupa.

Dizem que mudará também a forma como valorizamos as pequenas coisas e em relação a isso tenho algumas dúvidas. Não haverá agora mais "motivos" para o aumento da corrupção e de outros actos em benefício próprio?

Talvez sejamos ainda pouco exigentes na forma como educamos a sociedade.

É interessante perceber os binómios sociais que mais se revelaram no século XXI...

Em primeiro lugar está a ditadura da beleza e de figuras esbeltas, cada vez mais magras que tem a seu par a má alimentação e sedentarismo, principais causas da obesidade.

Em segundo lugar está algo parcialmente escondido: o diz que disse, o pré-conceito e todos os mitos urbanos.
Será normal criticarmos os dogmas e preconceitos de diferentes culturas, ideologias e religiões, sem fundamento e criarmos nós uma espécie de "força de ataque"?
Qual é a lógica da crítica sem a necessária auto-crítica?

Para terceiro e último lugar elegi "o aproveitamento da inércia e dos subsídios" versus "o trabalho voluntário e a responsabilidade social".
A meu ver, a inércia é já um problema social. Enquanto uma pequena parte da população se dedica a inúmeras causas para além da sua vida pessoal e profissional, há um número substancial de pessoas a desperdiçar segundos, minutos, vida...

Podem parecer um contra-senso mas as ideias antagónicas que regem a sociedade estão cada vez mais evidentes nos desequilíbrios que todos nós vamos sofrendo.

Talvez nos tenhamos esquecido que nada pode esconder uma boa alma e a necessidade das suas acções, nem mesmo uma cirurgia plástica.

As aparências podem sempre manipular-se à luz dos tempos; o ser jamais parecerá sincero e justo com tão belo disfarce.