quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Horror daqueles tempos

Tenho passado o tempo livre entretida no Google a pesquisar todos os nomes que vi nos cartões de identidade dos meus antepassados (descobri uns quantos cá em casa, onde viviam os meus avós!), avós, bisavós, trisavós, enfim... o que vai aparecendo nas caixinhas de alfarrábios desta casa.

Esta semana, sendo já a 3ª semana de "investigação", não estava minimamente esperançada quanto à possibilidade de encontrar mais algum nome de um tetravô. Contudo, enquanto continuava essa busca fui pesquisando também os nomes que acompanhavam a minha família, tais como o do meu tio-bisavô António Maria Pedro Cordeiro.

Qual não é o meu espanto, deparo-me com o seu nome identificado num processo crime da Torre do Tombo, torre essa que guarda tão bem a documentação que me vejo aflita até encontrar alguma coisa de interesse. Abri o ficheiro e, de entre aquelas dezena imagens das páginas do processo sai o seu nome, António Maria, e a confirmação com os nome dos pais associado. Foi um autêntico choque!

Cá em casa dos meus avós pouco se contava sobre o passado. A minha mãe, que conheceu os meus bisavós nunca ouviu falar de tal história. Sabia pois que este seu tio-avô tinha morrido muito novo, em África (ou no Ultramar, como se dizia naquela altura), vítima de um grave acidente: a queda de um tecto!

Esta notícia, agora revelada pela minha busca trouxe um sentimento estranho à minha família. Trouxe um pulsar de justiça e um horror imenso por aquela que foi a mais terrível polícia portuguesa.

No alegado processo, o meu revolucionário tio-bisavô era dado como pertencente a uma organização internacional de seu nome "Socorro Vermelho". Este facto, nos anos 30, mais precisamente, em Fevereiro de 1932, era uma ameaça ao regime que seria punível automaticamente. Um horror!

Horror deve ser a palavra que descreve a perda de um filho com 23 anos para o regime opressor e controlador. Horror foram certamente os tempos por que passou no "campo de concentração" para onde foi enviado. Horror foram aquelas horas de angústia dos pais, dos irmãos e da demais família. Horror era aquela ideia de que todos somos formatáveis à imagem de um qualquer oportunista.

Fiquei horrorizada, chocada e, ainda que estes procedimentos da PIDE fossem estudados por mim enquanto aluna do ensino básico, nunca pensei que a realidade daqueles tempos me ferisse tanto.

Tenho pena que estes homens não tenham conseguido libertar-se e virar o feitiço contra o feiticeiro, tal como se vê nos desenhos animados e se lê nas fábulas infantis.

Que injustiças como esta sejam rapidamente erradicadas. O mundo só deseja a paz.


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Há tempos que são assim... a sentir a poeira dos dias. Ouvir


Não consegui passar indiferente às manifestações de tristeza pela partida de uma menina inspiradora. Cheguei à conclusão de que só quando confrontados com a fragilidade somos capazes de perceber aquilo que andamos a fazer de errado. Somos queixosos do sol que não vem, do frio, do tampo da sanita que ficou aberto, de alguém que não nos cumprimentou no supermercado, do sal a mais ou a menos na sopa,...enfim. No fundo, todos temos estes pequenos conflitos e, no momento em que vemos uma família destroçada e uma criança sem culpa que não poderá crescer, sentimos a nossa verdadeira dimensão. Somos pó. 
Somos pouco mais do que qualquer outro animal, presos no ciclo da vida e da morte. O que acontece depois ninguém sabe. Mas, na realidade, temos desperdiçado toda a humanidade a promover atitudes tão mesquinhas que só nos resta, realmente, fazer uma vénia a qualquer criança como esta de que se fala. Elas sofrem as dores, os tratamentos, as tenebrosas horas de choro dos pais, dos familiares e não desanimam. São grandes exemplos e talvez por isso sejam elas a trazer a "boa nova". São corajosas o suficiente para viver o dia-a-dia. Para todas elas que enfrentam uma dura caminhada, a minha vénia e respeito.

#osaprendizesdanono
#malditocancro